
"Voltarei quando a Bretanha precisar de mim".
Com essa frase histórica, segundo as lendas inglesas, Arthur, o maior de todos os reis de sua história abandonou este mundo, depois de transformar a vida dos habitantes por completo, com a unificação das ilhas e expulsão dos invasores, trazendo à glória. E por que não dizer também, os conduzindo à queda.
Teriam, esses fatos, realmente acontecido?
Não importa. Uma lenda fora forjada atravessando sua época e trazendo a mística, os ideais de cavalaria e a busca incessante por um mundo melhor, próspero e justo. Os efeitos de Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda ecoam até hoje como simpáticos, não importa quanto tempo passe, ou quantas vezes os escutemos. Decerto, quem os escuta, nunca os esquece.
"Este é o segredo de todo o sucesso. Aí reside a magia."
Os trovadores – figuras folclóricas, que sempre foram retratados em livros como condutores de entretenimento para as cortes de todo o mundo – na verdade fazem muito mais, sendo para o povo o que Merlin foi para Arthur: conselheiros. Havia alguma coisa errada na vida de um camponês? Bastava ouvir uma canção a respeito das virtudes de Arthur e o simples homem do campo ganhava força para continuar. Orgulhoso pela forma que a vida mostrava-se próspera? Bastava um simples exemplo de falha por parte de um cavaleiro da Távola e o orgulho era trocado pela cautela e prudência. Em um tempo em que não haviam escolas e que apenas os mais ricos podiam aprender, os trovadores levaram o ensino às ruas, constituindo não somente a fama de uma lenda, mas toda uma revolução no comportamento do povo bretão.
Arthur voltará? Com certeza, pois ele nunca foi embora. Habita os corações e mentes da humanidade, um a um. Dormindo. Aguardando. Esperando que seja necessário trazer seus ideais mais uma vez à tona, e conduzir cada um novamente a glória.
Só depende de cada um de nós fazê-lo. E não existiu ou existirá hora melhor que agora.

A LENDA
Há muito tempo atrás, as ilhas Britânicas eram uma terra conhecida como Logres, rebatizada para Bretanha, em virtude da chegada dos romanos. Como era comum a seu império, Roma começou o processo de colonização da ilha, e lei e ordem instalaram-se em sua nova colônia. Junto com o progresso, vieram também a religião cristã e seus inevitáveis conflitos com os povos pagãos, cujas crenças acreditavam nos espíritos da terra.
Com a queda do império cerca de 400 anos depois, os romanos abandonaram a ilha, deixando à margem uma ampla vantagem para piratas europeus dominarem o território. Embora líderes se opusessem aos invasores, seu poder de revide não era suficiente. Feudos foram criados, e o povo sentia cada vez mais uma necessidade de alguém, um rei que pudesse unificar as ilhas e trazer novamente a prosperidade e à paz. No meio de todo estes conflitos surgia um jovem de nome Uther, que começava a reunir forças contra o rei Vortigen, que manipulava saxões e dinamarqueses a seu favor em troca da exploração da terra. Sua fama se espalhou e os feudos aos poucos iam juntando-se a seu reinado, e a Bretanha dava sinais de prosperidade futuramente.
Uther era auxiliado por um conselho de reis e cavaleiros, mas Merlin era o principal de todos eles. Ajudou o jovem Uther em muitas ocasiões, inclusive a aproximar-se daquela que seria sua futura esposa, a Duquesa Igraine, do condado da Cornualha. Uther matou o duque com a ajuda de Merlin, para que não caísse em seus ombros a culpa do crime. Embora tudo florescesse como um novo amanhecer para as ilhas, logo após o filho de Uther nascer, Merlin o chamou.
O mago foi direto em sua colocação: sabia que o fim de Uther estava próximo, e temia pela vida do jovem Arthur. Tomado por grande dor, Uther concordou em que Merlin escondesse seu filho, para que pudesse reclamar o trono quando fosse chegada a hora. Não tardou até que Uther fosse acometido de uma febre que ceifara-lhe a vida. Seus homens passaram a duelar entre si, e os saxões, contemplando o novo caos que se instalava, trouxeram seus exércitos, e conquistaram mais e mais postos. Arthur fora entregue sob os cuidados de Sir Hector, um nobre cavaleiro e tomado como filho adotivo.

O tempo passou e cerca de dezoito anos depois, surge Merlin dos vales profundos da região de Gales, fazendo um caminho reto até Londres. Ao chegar, mandou uma mensagem ao arcebispo da Cantuária, que um novo rei estava para surgir, e ele seria ainda mais glorioso que Uther sequer imaginaria ser. Dias de paz se aproximavam e todos os nobres deveriam comparecer à catedral no dia do nascimento de Cristo para saber quem ele seria. E o prestígio de Merlin era tamanho que ninguém, pagão ou cristão era louco o suficiente para desfazer de suas palavras. No dia marcado, todos encontravam-se dentro da catedral quando ao sair encontraram uma espada incrustada numa pedra com os seguintes dizeres:
"Aquele que arrancar da pedra essa espada será o legítimo rei de toda a Bretanha".
E eis que muitos tentaram e nenhum deles conseguiu. Indagavam entre si quem seria capaz de fazê-lo. Merlin sugeriu um torneio, a ser realizado no ano novo, para facilitar a procura. Logo a notícia se espalhou e cavaleiros de todas as localidades convergiam até Londres, na esperança de ser aquele que conseguiria realizar a façanha. Sir Hector também viera para o torneio, e trouxera Arthur, que servia de escudeiro para Kay, seu irmão adotivo. Com o torneio prestes a começar, Kay notara uma falha imperdoável: na pressa de competir, esquecera sua espada na estalagem onde estavam. Pediu a Arthur que fosse buscá-la sem demora, mas qual a surpresa do jovem e encontrar o local fechado, sem ninguém para abri-lo. No caminho de volta, Arthur encontrou a espada enterrada na pedra, e na pressa de ajudar Kay, não pensou muito: desceu do cavalo, puxou a espada sem muito esforço e, sem ter tempo para ler o que estava escrito na pedra, voltou rapidamente para o torneio.
Kay, ao Ter a espada em mãos logo a reconheceu, e um tumulto se formou. Ninguém acreditava que Arthur, um menino, conseguiria fazer tamanha façanha. Voltando ao local, depositaram a espada novamente em seu lugar e todos tentaram, mais uma vez, um a um. Somente Arthur foi capaz de fazê-lo, mais uma vez, e quantas vezes foram necessárias até que o povo o aclamasse rei, e os demais, vendo que não poderiam governar com a antipatia do povo, reconheceram como Rei de toda a Bretanha.
Mas, para governá-la, era preciso unificá-la. Arthur, reino após reino, ia juntando aliados, derrotando inimigos e trazendo paz e esperança. Uma ordem formou-se no dia de seu casamento – A Ordem da Távola Redonda – reunindo os melhores cavaleiros de todo o reino. Juntos eles aumentavam ainda mais a popularidade e o senso de justiça do Rei Arthur. Não tardou para que a Bretanha atingisse sua meta de unificação, e o rei só não ousou adentrar mar adentro e conquistar outras terras pois temeu por traição.
Mas, manter a paz é mais difícil que conquistá-la, principalmente com conspiradores dentro do reino. Um de seus opositores era a sua Morgana, sua meia-irmã. Ela, e mais o ócio a que os cavaleiros se submeteram após a unificação das ilhas levou-os a um ostracismo tamanho, no qual intrigas da corte – o amor de Lancelot pela Rainha Guinevere, o desaparecimento de Merlin – contribuíram, para que em algum tempo, cada um tentasse rebuscar uma glória que não existia mais. A busca pelo Santo Graal – o cálice que Cristo usou em sua última ceia – foi uma tentativa nobre pelos fins, mas jamais pelos meios. Incontáveis cavaleiros perderam suas vidas nesta busca, e assim que Galahad, filho de Lancelot conseguiu arrebatá-lo, o reinado de Arthur e a ordem da Távola não passavam de simples fantasmas. A decadência tomou conta da terra que um dia se chamou Logres.

Em batalha com seu filho Mordred, Arthur foi mortalmente ferido, e então, de forma tão majestosa como aparecera, desapareceu dos olhos humanos numa barca em direção à Avalon, uma terra mágica de onde lhe fora confiada Excalibur, a mais poderosa de todas as espadas.
Em seu lábio, uma promessa. A de voltar quando sua terra necessitasse.
Não foi o fim da lenda. Mas o começo.
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